DO LITORAL PERUANO À SELVA EQUATORIANA...

21º dia de viagem
Cidade: Riobamba/EQ | Categoria: Diário do Piloto
Postado em: 22/8/2015
Diário de Motocicleta

Nosso dia começou com a ansiedade em entrar pela primeira vez no Equador, e um certo temor por conta do Vulcão Cotopaxi, que depois de mais de um século, resolveu acordar justo agora.

O Governo decretou estado de emergência, o que confere plenos poderes na remoção de famílias, recursos e controle da informação, com censura inclusive em redes sociais.

Sendo jornalista, temia que nossa entrada, mesmo como turista fosse impedida, mas entramos tranquilos pela fronteira distante cerca de 130 km de Máncora.

A Aduana é moderna e os passos entre Peru e Equador são os seguintes:

1- Dar baixa na Migração Peruana;
2- Preencher o formulário de Migração do Equador;
3- Dar entrada na Migração no Equador;
4- Dar saída na Aduana do Peru;
5- Dar entrada na Aduana do Equador.

Seria um trâmite simples se na hora de apresentar a papelada na Aduana Equatoriana, o funcionário simplesmente saísse para almoçar.
O que ficou no lugar dele alegou estar muito ocupado e tive que esperar cerca de uma hora pela volta do bonitão.

Na hora de me atender, evidentemente estava com má vontade.
Primeiro pediu que eu fosse buscar a moto cerca de 150 m adiante, e estacionar na frente da Aduana... desnecessário, pois não há vistoria.

Depois implicou pelo fato do documento não mencionar onde foi fabricada.
Ai queria saber onde marcava o peso da moto e por fim pediu meu e-mail.

Só nesse guichê eu perdi cerca de uma hora, sem poder xingar, respirando fundo e tentando não me importar com o horário que comia solto no relógio.

Finalmente pegamos estrada às 14h, com cerca de 400 km pela frente.

As estradas no Equador são repletas de radares e a velocidade máxima é de 90 km/h.
Eu contei cerca de 3 flashes fotografando a moto a mais de 100 km/h e pelo incrível que pareça, eu era o único nesta velocidade.
Nenhum carro me ultrapassou em todo o trajeto... realmente seguem a risca a legislação e ainda conseguem andar mais devagar que tartaruga.

Quando entrei na Ruta 25, vicinal cheia de caminhão e cidadezinhas com semáforos e lombadas, cheguei a pensar em parar em alguma delas e passar a noite, por que cada vez que eu olhava no velocímetro, um ou dois km haviam passado.

Tentava me distrair com as montanhas verdes que seguiam paralelas a estrada, com nuvens carregadas de chuva, que eu rezava para não virar na direção delas.

Mas depois de Narajal, a Ruta 40 em que estava seguiu para as montanhas e um zigue-zague entre vales verdes começou quando acessamos a Ruta 35.

Fomos subindo cada vez mais e o cheiro de mata foi nos impregnando. Desde o Mato Grosso do Sul não sentíamos esse cheiro, nem mesmo no interior da Bolívia esse aroma tinha uma nota tão fresca.
Pode até ser que tivesse, mas depois de quase 4.000 km de desertos e Cordilheira dos Andes na rocha pura, qualquer grama poderia exalar o cheiro da Amazônia.

Conforme fomos subindo, a temperatura foi baixando e a neblina forte nos pegou.
Foi complicado ver a estrada durante alguns quilômetros, até que de repente vimos um pedaço de céu azul... era isso mesmo ou uma alucinação no meio de tanto branco?

Era!
Depois de uma curva o tempo abriu e contemplamos o topo das montanhas ainda iluminada pela luz do Sol e um céu azul, azul, azul.
Abaixo de nós uma névoa cobria todo o vale criando um visual incrível.

Nessa altura, o relógio já marcava 18h30 e uma placa nos deu a informação mais difícil de engolir... Riobamba – 165 km.

Naquela estrada serpenteando vales, ia demorar muito tempo, mas decidimos encarar mesmo a noite e não demorou muito para enfrentarmos novamente a neblina forte.

Foram mais 2h30 até chegarmos em Riobamba... por sorte os últimos 100 km foram mais suaves, com curvas mais abertas e sem radares, o que nos permitiu rodar na casa dos 110 km/h.

O frio nos cortou um pouco, ainda mais por que saímos sem segunda pele... na praia os termômetros marcavam 23˚C.. pra que usar a segunda pele da TEXX?
Mas a jaqueta e a calça seguraram bem a baixa temperatura que bateu a casa dos 8˚C.

Um dia incrível, do deserto para selva... do calor para o frio, subindo, subindo e subindo.

Amanhã quando o Sol nascer, vamos nos deparar com um visual fantástico... posso apostar.

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