TUDO SOBRE A RUTA DE LA MUERTE

Cidade: La Paz/BO | Categoria: Passeios
Revisado em: 29/10/2017
Diário de Motocicleta

Dormi mais uma vez ansioso, na verdade, dormi tarde e acordei muito cedo, pensando na motocada que teríamos pela frente.
Adoro essa sensação de medo, essa vontade de partir, de chegar a hora de realizar planos a muito tempo esquematizados... dá um gás, um calor, um sorriso besta na cara, que até parece deboche para aqueles que não sabe o que se passa dentro da sua cabeça.

Tomamos café da manhã e saímos um pouco tardio, por volta das 10h, aparentemente tranquilos. Em La Paz não é uma boa ideia sair cedo, por que as ruas tipicamente coloniais, estreitas e de calçadas pequenas, lotam logo cedo como em qualquer cidade, com pessoas indo trabalhar, levar os filhos na escola, entre tantas outras obrigações, que é óbvio o estresse na hora do rush.

Sair tarde só não é inteligente como saudável.

Por isso gosto de ficar próximo ao centro das cidades, por que geralmente é fácil de chegar e de sair, bem como bater perna até os principais atrativos turísticos e culturais, e em La Paz não é diferente, ficamos sempre próximo ao Prado, e deste ponto, partir para Ruta de la Muerte não nos custa mais que uns poucos quilômetros cidade a cima até a Ruta 3.

#FICAaDICA

Passamos na frente do Estádio Hernando Siles, e dalí subimos a Av. Busch, contornamos a Estação do Teleférico linhas Laranja e Branca seguindo o fluxo sempre reto até o movimento da cidade começar a diminuir até um pedágio e Posto de Controle da Polícia Boliviana.

Deste ponto em diante, já estávamos na Ruta 3 e começamos a subir, subir e subir, até La Cumbre com 4.470m de altitude... aqui os dedos doem proporcionalmente ás temperaturas que despencam – saímos de La Paz com 19°C e neste ponto atingimos 6°C, em pouco mais de 30 km percorridos.

A partir de La Cumbre, começamos uma descida desenfreada, numa estrada praticamente em zig-zag, cercada de altas montanhas que passam facilmente dos 6.000m de altitude – a chamada Cordilheira Branca ou Cordilheira Real.

Já motoquei por vários trechos da Cordilheira dos Andes, em vários países, mas nunca tinha visto algo tão gigantesco e imponente. Encostas escarpadas que sobem aos céus sem cerimônia, numa força da natureza difícil de quantificar.

É realmente impressionante imaginar essa cadeia de montanhas se formando, se acavalando umas sobre as outras, se espremendo e quebrando, buscando um ponto de fugo, uma saída para toda aquela pressão.

Em meio a esse cenário, uma curva emendando na outra até um Posto da Narcóticos, com oficiais simpáticos e curiosos sobre nossa viagem e destino – Coroico.

Seguimos descendo da Ruta 3 em meio a grupos de bicicletas que fazem com o acompanhamento de agências, esse tour imperdível para quem vem à La Paz.

Passando o túnel na altura do 40 km, existe um outro posto policial e uma vilinha com comercio, local onde as Vans com bicicletas sempre param, seguindo em frente, entre os quilômetros 52 e 53, à sua esquerda, existe uma placa muito discreta em inglês indicando a saída para Ruta de la Muerte... muito fácil de passar batido.

O começo, a primeira descida é revista de pedras soltas e grandes, com o piso repleto de erosão das chuvas, e mesmo motos mais altas tendem a bater o cárter no chão, então convém descer muito devagar, olhando e decidindo antes por onde irá passar.
As motos custons podem transitar por toda a Ruta de la Muerte sem problemas, exceto por esse trecho que exige atenção e calma redobrada.

Depois deste trecho de pouco mais de 200m, a diversão e a história começam.

A Ruta de la Muerte foi construída em meados de 1930 durante a Guerra do Chaco por prisioneiros paraguaios e foi a única via de acesso a Região dos Yungas até 2003, quando a continuação da Ruta 3 até Coroico foi construída.

A via encrustada na montanha, tem trechos de 3m de largura em muitos pontos, e eram disputadas por caminhões e ônibus em uma viagem alucinante e por vezes, mortal.

Há uma estimativa que mais de 90 mil morreram nesta estrada, uma média de 200 a 300 mortes por ano, e é plausível diante das condições da estrada que em 1983 testemunhou seu pior acidente, quando um ônibus lotado caiu penhasco abaixo matando de uma só vez mais de 100 pessoas.

Hoje não existem mais acidentes e a Ruta de la Muerte é usada por motociclistas e ciclistas que descem até Coroico com calma, apreciando a paisagem, por uma estrada que em muitos pontos possui até guard-rail.

O percurso total, saindo da Ruta 3 na altura do 53km até a cidade de Coroico não passa de 35 km, com dois postos de controle, aonde no primeiro deve-se pagar uma taxa de US$ 3,50 por pessoa... no segundo lhe cobram o bilhetes, e se não estiver mais com você, será preciso pagar novamente para sair da Ruta, então guarde-os em segurança.

O visual é quase indescritível, um trajeto sinuoso em meio a montanhas revestidas de vegetação, que tem seu ápice quando atravessa uma cachoeira de aproximadamente 100m... um delicioso banho, que é bem vindo justo quando a temperatura começa a aumentar.

Não pegamos uma baita cachoeira por assim dizer, já que ainda não estamos na temporada de chuvas (de Novembro a Março), mas um véu de noiva se estendeu durante este percurso, garantindo imagens incríveis.

O fim da Ruta de la Muerte não acaba dentro da cidade de Coroico, mas subimos até ela para abastecer e conferir como é pequenina e simpática... tínhamos os planos de almoçar por lá, mas estávamos completamente sujos e suados, que resolvemos voltar para La Paz.

Neste ponto estávamos a pouco mais de 1.200m de altitude, na casa dos 32°C – é um grande choque psicológico se compararmos que saímos dos 3.600m, subimos para 4.700m, passando por 6°C, descemos a Cordilheira antes de voltarmos para as alturas.

Quem teme o mal de altitude, não precisa se preocupar, pois a mudança é tão rápida, que o organismo aclimatado pouco sente a diferença que se destaca mesmo pela temperatura e só.

Entre ida e volta de la Paz, rodamos aproximadamente uns 270 km em pouco mais de 6h... um dia incrível que ficará para sempre... até retornarmos.

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